Publicado em 03/07/2025
Texto construído e revisado coletivamente com Revolta Anarcokuir.
Na semana do orgulho, que em $P ocorre durante um feriado cristão, marcamos pontos estratégicos da cidade com nossas afirmações de revolta, como o histórico Largo do Arouche, a rua Augusta e a avenida Paulista, local onde é realizado o megaevento.
Se a parada nos convoca a lembrarmos de nossas histórias e das velhices LGBT+, reivindicamos com nossas ações diretas as lutas e resistências que fizeram o orgulho brotar da revolta.
No domingo, tomamos um espaço da av. Paulista onde pudemos abrir caminhos, afastadxs dos trios elétricos, da multidão e dos carrinhos de venda de bebidas e churrasco ou bugigangas com as cores do arco-íris e bandeiras com as cores da pátria. Em meio ao barulho da festa patrocinada, andamos em silêncio, em contra-marcha.
“Memória, resistência e futuro”? De quem? Para quem? Quais LGBTQIAPN+ podem ter uma vida longeva no país onde mais matam pessoas trans e travestis em todo o mundo? Como será o passar dos anos para as crianças e xs jovens trans que tiveram sua saúde alvejada pelas armas dos polícias de jaleco branco?
Como resgatamos as histórias de nossas lutas, de nossxs ancestrais, se domesticamos e vendemos nosso orgulho? E, a cada edição desse megaevento, apagamos um pouco mais as revoltas que fizeram eclodir o orgulho. Onde está a revolta LGBTQIAPN+?
Como a parada não se voltou à luta contra a resolução do Conselho Federal de Medicina, assinada em abril deste ano? Isso é um desfile de escola de samba cujo tema deve ser decidido um ano antes, sem alterações?
Esquadrinhar o que é assunto das velhices x das crianças e jovens não é reproduzir etarismos e mais individualismo burguês no movimento?
Chega de falar de resistência como uma palavra vazia, reduzida a um apêndice identitário! As resistências são práticas, experiências de confronto contra a ordem, contra a sociedade. Ninguém resiste dentro das normas, das leis, dos uniformes. Isso é reformar.
O orgulho brotou da revolta!
orgulho sem revolta = exército do estado de Israel, o 1º a ter soldados e soldadas trans.
orgulho sem revolta = parada do orgulho de Los Angeles de 2025 ocorrer alheia às revoltas dxs estrangeirxs nos U$A.
orgulho sem revolta = parada do orgulho LGBT+ de $ão Paulo, a maior e mais rentável do mundo, se calar diante da resolução do CFM.
orgulho sem revolta = chorar por migalhas do estado (o mesmo que promove e sempre promoveu a devastação ecológica, a matança dos povos originários e de suas culturas, o encarceramento e o massacre de pretxs e pobres).
orgulho sem revolta = desejar empregabilidade e patrocínio (que estão diminuindo...esperem com suas latinhas da Ambev e copões de Smirnoff, enquanto o efeito Meta nas políticas de diversidade e inclusão vai chegando aqui...).
orgulho sem revolta = lamber as botas da polícia e aplaudí-la na parada para não ter seus celulares furtados.
orgulho sem revolta = aceitar dinheiro da prefeitura e do governo do estado de $P, responsáveis pelas violências contra pessoas em situação de rua, usuárixs de crack, pretxs e pobres, as árvores remanescentes na cidade de concreto.
orgulho sem revolta = acatar e reproduzir o policiamento de gênero, se jogar na disputa entre as siglas, passar pano para as TERFs e suas alianças com os fachos.
orgulho sem revolta = dar continuidade a esta ordem social, garantir o futuro dela às custas das nossas existências livres no presente, nossas existências kuir e trans anarquistas e todas as existências que se fazem contra ou fora dessa ordem religiosa, capitalista, estatal.
Por isso rejeitamos seu orgulho higienizado e seguimos alimentando as chamas da revolta e cultivando sonhos que não cabem em sua ordem social.
Evocamos a memória das lutas do passado e agimos no presente para romper com esse ativismo mercantilizado e abrir caminhos que nos levem para fora de suas disputas por reconhecimento e pela gestão desse estado colonial.
Hoje e amanhã, seguimos combativxs e indomesticáveis.
Morte ao estado e viva a anarquia!