Publicado em 15/04/2025
Mais uma vez o Conselho Federal de Medicina decidiu “legislar”, através de suas normativas, sobre os corpos trans com a desculpa de estar fazendo “saúde”, mesmo que nenhuma pessoa trans participe dessas decisões.
Inspirada pelo CFM, decidi fundar a nossa contra-instituição para também normatizar sobre a cisgeneridade por estar preocupada com a saúde e o bem estar deles.
O CIS-selho Foderal de Merdicina é o novo CFM responsável por essas diretrizes, das quais acreditamos que protegerá pessoas cis de se arrependerem posteriormente do constrangimento de suas decisões. Segue a normativa:
I - É proibido chá de revelação de gênero de bebê.
Justificativa: episódio de mania de adultos acreditando poder impor suas crenças de como uma pessoa que está a nascer deve se comportar pelo resto da sua vida. Por considerarmos essa crença absurda e trazer posteriormente sofrimento à criança que não pode se defender dos adultos, proibimos tal ritual.
II- Proibição de prodedimentos estéticos e hormonização de pessoas cis para afirmar o gênero designado ao nascer.
Justificativa: pessoas cis são seres naturais e sua beleza consiste nisso. O uso de procedimentos estéticos cirurgicos ou farmacológicos para afirmar o próprio corpo contraria a natureza humana, criada por deus, então para evitar sua auto-destruição, a cisgenereidade não pode de forma alguma alterar o próprio corpo pois isso pode levar a uma perda da própria identidade cis e arrependimento. Acreditamos ser essa a forma mais saudável para pessoas cis, afinal o contrário disso seria aceitar que gênero é construído por técnicas e tecnologias, mas sabemos que a cisgenereidade é natural - é o que eles dizem.
III- Proibido o uso de drogas para aumento de performance sexual (tadalla e viagra para homem cis brocha).
Justificativa: essa é exclusivamente porque acreditamos que os médicos do CFM usam e isso está claramente afetando a capacidade cognitiva deles de tomarem decisões ao ponto de achar que sabem algo sobre o melhor para pessoas trans.
Ass: Presidenta do CFM, Penélope Lutan.
É claro que a ironia do novo CFM, o Cis-selho como contra-instituição, só pode ser uma ironia porque nós não dominamos os meios de produção dos corpos, ao contrário do verdadeiro CFM que afirma seu poder sobre o corpo e a vida, seu biopoder, através do domínio sobre essas técnicas e tecnologias enquanto nos exclui delas.
O que está demonstrado é a classe médica se posicionando na ala mais conservadora e anti-trans junto da extrema-direita brasileira, apontando para a necessidade de também estarmos conectados para evitar mais restrições sobre nossos corpos e prontos para responder quando necessário.
Esse embate deve aumentar mais com a apresentação do Programa de Atenção à Saúde da População Trans (PAES Pop Trans), que busca construir um apoio à saúde trans mais focada em nos garantir os acessos a hormônios e apoio médico para nos dar maior autonomia sobre nosso corpo.
Lutamos para que no fim todos tenham acesso à construção do próprio corpo, no curto prazo isso significa garantir que programas como esse, que possam atender essas necessidades, sejam garantidos e não derrubados por “extra-legislações” e normativas produzidas entre a classe médica e política de direita.
Façamos o apoio aos poucos programas que ainda temos para ajudar a população trans a ter acesso às suas necessidades de afirmação corporal e, no longo prazo, continuemos a construir nossas próprias formas de organização e construção corporal e comunitária para não continuar a depender das instituições cisgêneras.
Será ainda necessário produzir contra-instituições dos corpos dissidentes, capazes de produzirem os recursos, linguagens e agenciamentos capazes de atender as necessidades da nossa comunidade. A cisgenereidade não fará o papel do nos garantir nossos corpos.